A vida
a vida apreendo ao atirar a pedra
estilhaçando a luz do sol
vendo o escuro que a noite medra
vendo a cor vermelha do arrebol
vendo o poema que escorre
como o canto que morre
no mais escuro de mim
escorre sem não ter fim
a vida apreendo imerso nesta ingente ilusão
quando a noite faz-se outro dia
das areias da escuridão
numa infindável alegoria
como se o sol em seu trono
acordasse de um longo sono
dissolvendo a mais densa madrugada
onde uma gaivota passa voando para o nada
a vida apreendo numa ignota solidão
como se tudo estivesse fugindo
como se tudo dissesse não
para um tempo que vai sumindo
escoando num antigo labirinto
é tão antigo tudo o que sinto
tão antiga minha emoção
somente é mais antigo o meu roto coração