Eu, quem?

Se ela fosse eu

Talvez, fossemos duas

Metades utópicas de coisa nenhuma

Pois, já não sou e ela também não é

Como poderíamos ser?

Tendo sido, nossa essência massacrada...

[exterminada, escravizada, açoitada e morta]

Nem eu, nem ela existimos

Enclausuradas na incerteza

Do que nos nomearam, do que deveríamos

Cercadas de falsos amigos Bem-Feitores

E inimigos que nos caçam como elefantes

Transvestidas de primeiras damas

Com roupas limpas, sorridentes e cristãs

Ninguém percebe o que nos fizeram

Que somos prostitutas vendidas

A serviço de vários donos

Para atender todos os prazeres

De operários aos príncipes

Porém, nosso gemido suprimido

Não é prazer, é dor

Somos defendidas por estupradores, usurpadores e parasitas

Por séculos fomos caçadas

[nunca encontradas]

Há muito tempo não somos

A maldição é o silêncio

Silencio esse não-contagioso

Pois, não se calam

Dizem morrer por nós

[ mas, nos matam]

Os gritos sempre irão sufocar os gemidos

Quem muito grita, não diz nada

Só o silêncio, do não entender

É capaz de escutar

O que diz a liberdade?

Sadassa
Enviado por Sadassa em 11/11/2018
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