Eu, quem?
Se ela fosse eu
Talvez, fossemos duas
Metades utópicas de coisa nenhuma
Pois, já não sou e ela também não é
Como poderíamos ser?
Tendo sido, nossa essência massacrada...
[exterminada, escravizada, açoitada e morta]
Nem eu, nem ela existimos
Enclausuradas na incerteza
Do que nos nomearam, do que deveríamos
Cercadas de falsos amigos Bem-Feitores
E inimigos que nos caçam como elefantes
Transvestidas de primeiras damas
Com roupas limpas, sorridentes e cristãs
Ninguém percebe o que nos fizeram
Que somos prostitutas vendidas
A serviço de vários donos
Para atender todos os prazeres
De operários aos príncipes
Porém, nosso gemido suprimido
Não é prazer, é dor
Somos defendidas por estupradores, usurpadores e parasitas
Por séculos fomos caçadas
[nunca encontradas]
Há muito tempo não somos
A maldição é o silêncio
Silencio esse não-contagioso
Pois, não se calam
Dizem morrer por nós
[ mas, nos matam]
Os gritos sempre irão sufocar os gemidos
Quem muito grita, não diz nada
Só o silêncio, do não entender
É capaz de escutar
O que diz a liberdade?