Saga (aos políticos brasileiros)
Dedicada: À impunidade À violência Ao abandono Ao pouco caso À
arrogância; Enfim, dedicada aos políticos brasileiros e aos
seus eleitores.
Cheira cola
Não tem porque parar
A fome de escola
Nem chegou a experimentar
E passa com olhos escuros Só esperando Quem por ali passar
E passa de novo
Pela pinguela,
Pelo barranco
Pela janela
E passa com olhos escuros Só esperando Quem por ali passar
Pega a magrela
Do moço na esquina
Pegou porque quis
Porque é sua sina
E passa com olhos escuros Só esperando Quem por ali passar
E passa depressa pelo viaduto
Que a viatura acabou de passar
Se ela pára, menino já sabe
Onde vai parar
E passa com olhos escuros Só esperando Quem por ali passar
Não é deputado nem é senador
Não tem carta branca nem bajulador
A sessão nem começa e já tem vencedor
O menino só sabe do atirador
E passa com olhos escuros Só esperando Quem por ali passar
O choro engole,
Que agora é passado
A vida escapando
Deixada de lado
E passa com olhos escuros Só esperando Quem por ali passar
E cheira cola
Não tem porque parar
A fome de escola
Nem chegou a experimentar