## BÊNÇÃO ##
Sem ter a quem pedir a bênção,
deixou-se morrer pelos cantos da casa.
Minguando entre paredes...
Violão sem cordas nem mãos que o toquem.
Vida debochando da letra amarga
da música que acabara de compor.
Bênção agora só a Deus
a quem não se duvida do amor.
De resto é armário abarrotado
de coisas em desuso,
é diálogo confuso,
perda de tempo, troca de fuso.
E eu que pedia a bênção
antes de ir brincar, desconfiada
das mãos finas de meu avô
a quem nunca consegui penetrar.
E por isso mesmo corria
depois da missão cumprida.
Bença vô. Deus te abençoe.
Menina virou, menina se foi.
Diálogo único, como Deus,
único que pode me abençoar
sem jamais caçoar dos sentimentos
e dúvidas, das tristezas e alegrias no vermelho.
Deus sempre foi mais eu diante do espelho.
(Taciana Valença)