BARBARA EDEN

estampei teu retrato numa camisa velha

com o milagroso líquido azul que comprei no centro

passei a te carregar no meio do tórax

enquanto vagava pela casa à cata de retalhos noite adentro

carecia melhor explicação o porque dos hábitos

estranhamente adquiridos depois da tua ausência

a tv ligada noite e dia em ininterrupta vigília

e a disposição circular dos móveis, como numa audiência

estaria eu no centro do palco do mesmo velho teatro

ou depois de tudo tudo era ilusão em vez de concreto?

confesso tenho inveja daquele tolo homem cuja mulher na garrafa

se contorce de paixão enquanto ele se esforça para mantê-la um prazer secreto

eu que nem tentei te colocar num vaso quanto mais numa garrafa

agora tenho que me contentar com tua imagem desbotada numa camisa velha

que me cai como mortalha sobre a carne solitária de quem não aprende

que o sangue de quem muito ama não é vinho mas água com groselha