ALMAS PENADAS
Bem-vindos os que acham alívio nas nuvens carregadas
Sintam-se à vontade aqueles que do cadafalso escaparam por pouco
E choram por isso...
Aceitem e participem do banquete os devotos do desvario
As almas penadas que não conheceram a morte
E os vivos que penam por teimosia e insistência na velha roda enferrujada...
Abençoados os sodomitas que retornaram do Cáucaso
Gentis sejam os que recepcionam meus amigos guiados por Virgílio e esquecidos na viagem
Nos grotões da velha estiagem
Dê-me um motivo e uma canoa
E transporei cada oceano por uma certeza
Assim como viverei pra dar boas-vindas
Ainda que morra finalizando-as...
Benditos enfim sejam meus filhos não-nascidos
Sigam-me nas estradas e nos morros
Nos declives e aclives
Nas ressacas e nos orgasmos
Nas danças e nos choros
Nas leis e nas desobediências
E então vamos enfim ao fim
Fim de mim, fim de algo, fim da retórica
Fim da norma culta
Fim da encheção de saco
Fim do medo do trocadilho acima...
E aguardemos as certezas que ficaram pelo caminho
Masquemos fumo nesse percurso
E depois vomitemos uma saliva velha e encardida, tóxica e opaca
Que será eterna
Mas não a última.