CILÍCIO
sem muito esforço,
caí de amores pelo meu cárcere
e, de muito gosto,
aceitei nós e correntes
e peitei as contra-correntes
porque isso me dava substância.
me alegrava como uma segunda infância
a sensação de estar cativo,
de atender de pronto a fria voz
de meu amado algoz
e me sentir vivo.
sem muita cena,
abracei de primeira minhas dores
com a alma leve de açucena,
dores talvez não como as de parto,
as quais com ninguém comparto,
tenazes em seu ápice,
amargosas em seu rubro cálice,
paralizantes no seu todo,
mas que, ao me oferecer ambíguo abrigo,
me punham em paz comigo
e me lavavam do lodo.