A Condenação Da Alma
A Alma que na penumbra dissimula, perante Limos;
Omite seu desvio
Pois para a perversidade pendeu,
Mas as sombras a resguardam.
Os ventos, atiçou Éolo, porém,
Que com corriqueiro sopro
Lança a Alma às alturas
Onde o ombro do carrasco se acha.
E assim falou-lhe Limos:
“A bondade consumiste:
Falhaste ao amor e à virtude.
És a garganta da serpente, ó Alma,
Te apoderaste do poder que te foi entregue,
E dos mais fracos te susténs”.
A Alma humilda-se à sentença.
“Pois então,
Eu, Limos, deusa da fome,
Te despojo do privilégio”.
“Viverás eternamente faminta:
Não importa que te empanturres de comida
Pois nunca a dor findará!”
“Pagarás com a antiga moeda;
Sentirás com teu próprio corpo,
O poder da vingança.
Condeno-te assim, ó Alma!”
“Nem Morfeu;
Nem Morfeu nem a papoila,
Nem mesmo Ícelo ou Fântaso
Te extinguirão tal agonia”.
“Te condeno à dor eterna,
Tal qual Prometeu,
Cujo fígado ainda resta pedaço
Pois a águia com grande esfaima!”
“A aflição te dizimará,
Te assolará, te destruirá.
E eu mesma te arrastarei
Para ao abismo!
Nas profundezas de Tártaro,
Onde verás as cavernas mais profundas do Hades,
Toda a escuridão e crueldade te abraçarão, ó Alma!
Lá, onde a noite é imortal!”