A Condenação Da Alma

A Alma que na penumbra dissimula, perante Limos;

Omite seu desvio

Pois para a perversidade pendeu,

Mas as sombras a resguardam.

Os ventos, atiçou Éolo, porém,

Que com corriqueiro sopro

Lança a Alma às alturas

Onde o ombro do carrasco se acha.

E assim falou-lhe Limos:

“A bondade consumiste:

Falhaste ao amor e à virtude.

És a garganta da serpente, ó Alma,

Te apoderaste do poder que te foi entregue,

E dos mais fracos te susténs”.

A Alma humilda-se à sentença.

“Pois então,

Eu, Limos, deusa da fome,

Te despojo do privilégio”.

“Viverás eternamente faminta:

Não importa que te empanturres de comida

Pois nunca a dor findará!”

“Pagarás com a antiga moeda;

Sentirás com teu próprio corpo,

O poder da vingança.

Condeno-te assim, ó Alma!”

“Nem Morfeu;

Nem Morfeu nem a papoila,

Nem mesmo Ícelo ou Fântaso

Te extinguirão tal agonia”.

“Te condeno à dor eterna,

Tal qual Prometeu,

Cujo fígado ainda resta pedaço

Pois a águia com grande esfaima!”

“A aflição te dizimará,

Te assolará, te destruirá.

E eu mesma te arrastarei

Para ao abismo!

Nas profundezas de Tártaro,

Onde verás as cavernas mais profundas do Hades,

Toda a escuridão e crueldade te abraçarão, ó Alma!

Lá, onde a noite é imortal!”

Sérgio Peixoto
Enviado por Sérgio Peixoto em 04/11/2018
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