A Culpa do Corpo

Tu, corpo, não mais te aguenta

Se te exprime o limiar

Se desaba sobre o andar

Se soma não mais se enfrenta

O osso, o aço, a mania

Se entope tua narina

Debate, implora aspirina

Calada, se faz afonia

Fibras, câimbras, ruínas

Tuas formas de expressão

Não mais te grita o refrão

Do verso de outras esquinas

No fim, o corpo de outrora

Que expulsa, escuta, doutrina

Que culpa, acumula, se ensina

Agora, nao vê, não se implora

Te sente, nunca te esquece

Tu, corpo só de passagem

De tanto fazer-se miragem

Enchergas que tu te merece

Vê se comporta tua sina!

Tu, corpo, te afoga em malicia

Te tenta não ser mais polícia

Que atenta tua causa divina

Tu, corpo, não há quem te ensine

Não tenhas outras triagens

Pra ascender-se a outras imagens

Quando fraca te faz sublime.

Pois tens o que mais necessita:

Tuas torres de vigia

Teu peito, a sombra sombria

Tu, corpo, não mais te limita.