Pudera
Pudera simular a flor
Composta de pura letra e palavra
Impregnada da cor e do cheiro
E do sentimento e da dor
De quem a empunha
Pudera conter a matéria
Na pura essência do signo
Revelada luz aos olhos de quem lê
Consubstanciada aos sentidos
Pudera liberar o tesão e o sorriso
Curar a dor, parar o tempo e o medo
E instigar a alma e a nobreza
Que contém o âmago de todo homem
Pudera eu, pudera a poesia
E o néctar que dela se destila
Estalar na boca e melar nos dedos
Sem quimeras, ou segredos
Pudera eu fazê-lo, pudera eu fingi-lo
Pudera fingir a dor que me causa
O privar-me do prazer extremo!
Inimigo atroz que infantilmente temo
Pudera me fingir capaz desta alquimia
E lograr, assim, dela abster-me
Pudera eu fingi-lo, pudera eu fazê-lo
Pudera eu... sequer um dia.
D.S.