Poeta que é poeta

Poeta que é poeta

tem a chave que escancara o coração dos homens,

entrando e saindo sem bater na porta,

nem se fazendo notar.

É criatura de alma farta,

com salvo-conduto pra matar quem bem quiser,

só com veneno das suas palavras,

só com o alçapão das suas frases,

só com o cadafalso do seu pensar.

Poeta que é poeta vive em estado de graça,

meio de porre, meio drogado, meio extasiado,

pra poder brincar com seus escritos sem rédeas,

sem medo, sem limite, sem regra.

É obra escolhida pelo Criador

pra levar ao mundo o que gostaria de dizer

e nunca conseguiu.

Poeta que é poeta já nasce velho, curtido.

infestado das rugas do caminhar,

entulhado de cheiros, gostos, texturas,

que vai parir através dos passos da sua arte.

Poeta que é poeta conhece todas catacumbas

da paixão, todos rincões da saudade,

todos descampados da solidão.

Sabe melhor que ninguém

onde estão as vísceras do gozo,

o pulmão da felicidade,

o porto escondido da fé.

Poeta que é poeta não tem lar,

não tem raiz e nem tampouco gera frutos.

Sua nômade razão de ser

o empurra para os relentos da vida,

se inspirando no céu aberto,

nas sombras dos medos,

nos poréns mais aguçados da razão.

Poeta que é poeta não morre nunca,

não se sacia nunca, não estanca nunca.

É nele que todos os seres vão recarregar

seus sonhos, seus sangues, seus ossos,

sua paz e seu suor.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 03/11/2018
Reeditado em 03/11/2018
Código do texto: T6493248
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.