Filhos como de fato são

Quero falar deles

tão aguçadamente desejados

tão suormente feitos

tão divinamente contemplados.

Trazidos ao mundo pela nossa mão

placidamente colocados nesse chão

aninhadamente recebidos

com todos cheiros, gostos e texturas

que couberem na nossa alma.

Fizeram brotar na gente a felicidade dos mundos,

a divindade dos mundos,

a bênção mais infinita dos mundos.

O rio corria no seu curso sem medo,

sem rebarba, sem trava, sem cabresto.

cumprindo seu ofício com colorido respirar,

extirpando sombras dos nossos passos,

mandando embora as dores mancas da fé.

Até que, num belo dia,

quem se dizia fiel, some da raia,

quem se passava por doce. vira tumor,

quem se fazia brilhar, podre fica.

O coração se despedaça, se tritura, vira pó,

as ideias cambaleiam, perdem o rumo, esgarçam,

o bafo da traição é demais para o nosso porto.

Dá vontade de jogar nossos olhos fora,

dá vontade de arrancar nossa alma de vez,

dá vontade de sufocar o sangue até morrer.

Eles que outrora se faziam passar por queridos,

que outrora eram nossa varanda mais arejada,

agora só querem vigorar seu desprezo,

agora só querem premiar seu adeus,

agora só querem ecoar seu pouco caso,

num ímpeto que faz o diabo invejar.

Agora os entendo como de fato são,

agora os traduzo como de fato são,

agora os choro como de fato são.

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inspirado nos meus filhos

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 02/11/2018
Reeditado em 02/11/2018
Código do texto: T6492314
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