Aparelhamento poético

Marginal poeta se acerta nas quinas do mundo

beirando o absurdo, mudo se faz

a beira mar escreve versos e conta tudo:

- Das idas e vindas dos povos,

das fugas e ocupações que transbordam as guerras

erra, quem julga ter o poeta malícia

poeta é feito as crianças ou os idosos, puros

impuros são os que não podem crê-lo.

Nas cidades do mundo, escreve o poeta a vida em movimento

desfaz-se e faz-se novamente a todo tempo

em face de uma sua necessidade:

- Contar a todos o que é visto mais afundo

contar aos outros as coisas que sabe do mundo

de seu mundo,

de outros mundos,

dos mundos possíveis e dos impossíveis.

Criar mundos e aparelhar as pessoas de poesia

é a grande magia que traz em segredo o poeta,

seu saber mais sincero é a verdade que canta os pássaros

poeta é sociedade secreta que ritualiza o cotidiano

e ergue altar à simplicidade complexa das formigas.

Por um defeito em sua criação

ao poeta não é permitido o silêncio,

pelo menos não dentro do peito, onde as guerras se dão

caneta e papel em suas mãos e logo muda o mundo,

sem que se perceba muda tudo.