TEMPO RUBRO
eu não saí ilesa
eu tenho perfurações por todo corpo,
a bala também me atingiu
tingiu a nação
de vermelho
a mesma que lavou as mãos
quando deviam ter estendido o braço
em prol do estado laico
contra resquícios autoritários
“Brasil acima de tudo
e Deus acima de todos”
esse episódio é só mais um repertorio novo
assistido em 1964, regravado em 2018
eu sangro de novo
desfaleço todo dia, um pouco.
definho
mas não morro
renasço nos dias de sufoco
discorro, antes que me censurem
que as palavras virem morfo
eu não comerei lavagem dos porcos
serei substância
pros nossos, prós poucos.
eu não saí ilesa,
tenho feridas por toda parte
e minha face já não é a mesma
minhas vestes não estão sujas de sangue
não são escarlatas vermelhas
tão brancas como seda
e meu deus não é de extrema direita
Emicida o viu, e disse que ele era uma mulher preta.