TEMPO RUBRO

eu não saí ilesa

eu tenho perfurações por todo corpo,

a bala também me atingiu

tingiu a nação

de vermelho

a mesma que lavou as mãos

quando deviam ter estendido o braço

em prol do estado laico

contra resquícios autoritários

“Brasil acima de tudo

e Deus acima de todos”

esse episódio é só mais um repertorio novo

assistido em 1964, regravado em 2018

eu sangro de novo

desfaleço todo dia, um pouco.

definho

mas não morro

renasço nos dias de sufoco

discorro, antes que me censurem

que as palavras virem morfo

eu não comerei lavagem dos porcos

serei substância

pros nossos, prós poucos.

eu não saí ilesa,

tenho feridas por toda parte

e minha face já não é a mesma

minhas vestes não estão sujas de sangue

não são escarlatas vermelhas

tão brancas como seda

e meu deus não é de extrema direita

Emicida o viu, e disse que ele era uma mulher preta.

Yas Araújo
Enviado por Yas Araújo em 29/10/2018
Reeditado em 29/10/2018
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