AMANHÃ
Quando seus sonhos enfim virarem fumaça,
quando não tiver mais graça o sofrimento,
quando nada mais fizer sentido,
quando a lucidez tiver partido,
quando a embriaguez vier à tona,
quando tudo que almeja for à lona,
quando não adiantar o estardalhaço,
quando de repente se olhar no espelho
e a sua imagem for a de um palhaço,
quando o sorriso ausentar do seu rosto,
quando só restar raiva e desgosto,
quando a fé deixar de ser sua aliada
por ver sua mente tão alienada,
quando os pés tocarem o fundo do poço,
e as mão não alcançarem a borda do fosso,
quando só a migalha lhe for semeada,
quando olhar seu tudo e perceber que é nada,
quando não couber mais fazer alarido,
quando ninguém mais ouvir o seu gemido,
quando tudo enfim já estiver perdido,
quando perceber que foi iludido,
quando for bem tarde para rebeldia,
quando for em vão tua filosofia,
quando então cumprir-se toda a profecia,
quem sabe ainda haja tempo de se redimir
permanecendo inerte sobre a lousa fria.
Saulo Campos - Itabira MG