AMANHÃ

Quando seus sonhos enfim virarem fumaça,

quando não tiver mais graça o sofrimento,

quando nada mais fizer sentido,

quando a lucidez tiver partido,

quando a embriaguez vier à tona,

quando tudo que almeja for à lona,

quando não adiantar o estardalhaço,

quando de repente se olhar no espelho

e a sua imagem for a de um palhaço,

quando o sorriso ausentar do seu rosto,

quando só restar raiva e desgosto,

quando a fé deixar de ser sua aliada

por ver sua mente tão alienada,

quando os pés tocarem o fundo do poço,

e as mão não alcançarem a borda do fosso,

quando só a migalha lhe for semeada,

quando olhar seu tudo e perceber que é nada,

quando não couber mais fazer alarido,

quando ninguém mais ouvir o seu gemido,

quando tudo enfim já estiver perdido,

quando perceber que foi iludido,

quando for bem tarde para rebeldia,

quando for em vão tua filosofia,

quando então cumprir-se toda a profecia,

quem sabe ainda haja tempo de se redimir

permanecendo inerte sobre a lousa fria.

Saulo Campos - Itabira MG

Saulo Campos
Enviado por Saulo Campos em 25/10/2018
Reeditado em 25/10/2018
Código do texto: T6485763
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