culminâncias
Culminâncias
Se o tempo culminar em espera
O que fora doce amarga a hera...
Na descoloração sombria dos desejos
Sibila o gozo empapado beijo
E faz-se do amor seu regaço em pejo.
O que te foi vida palpita o estro
Do encanto daquelas primaveras
Floradas ainda no teu cedo...
A invernal presença desses núncios
Pôs-se a vibrar à anunciação do ledo...
Aqui o agora faz-se realidade
No manto límpido da saudade
A sobra do que te foi desejo.
Para o que sobrevive à memória
Nesta opaca procissão de erros
Lembrando o dia em que foste glória.
Toma das mãos que te acalentavam,
Palmadas em horas de desespero,
Que, afinal, a sobra das horas lesadas
É como este fim de noite tempestuoso,
Deixado aflorar em teu desassossego.
Ao fim das tardes folhas derrubadas
Dizem adeus ao qual faltam palavras,
Visto que esvoaçam até o galho seco
Entre folhagens mortas de passagem
Postas no espaço da antes alegria,
Retratadas na sobra do hoje velho
Bardo descontando dias postos fora...
Por isso o tempo que se faz presente
Impõe-se à saga viajada a outro
Tempo escorrido em horas divididas...
Talvez agora, em que te sobra tempo,
Possas sorrir do choro descontente
De quando o riso não te satisfazia...
Assim, se o tempo passado e presente
Culminarem na espera da doce hera
A descoloração será aberta ao gozo,
O mesmo que telara na antiga raiva
Antes sobrada de impetuosos voos,
Hoje pousando no cansaço afoito
Do dia feito espera, topado morto.
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