Vocábulos
Escrevo, porque as palavras saem, e querem sair
Não porque precisam dizer algo, apenas porque são livres
Não interessa o que os versos dizem, porque no fundo são apenas sons viscerais
Letras, perfumes e sabores, que saem quando querem, e quando não quero.
Na concepção insurgente dos sons e do silêncio
Estreito meu querer, com o querer das coisas do mundo
Como o cheiro que a flor, sem saber ou querer, exala
Como o vento, sempre querendo assoprar vida nova em nossas veias inférteis
Escrevo, porque as palavras não têm razão,
Nem são exatas
Pequenos traços sem nexo, de raros pesadelos introspectivos
Coisas que se prendem e se soltam, no universo de minhas emoções coaguladas
Sombra inacabada de arvores florescidas.
Escrevo porque não há nada que posso fazer contra isso,
Ou aquilo
Nem a favor do amor, nem contra o desejo, ou vice-versa
Porque ambos infelizes coexistem, no espaço opaco deste dia azul
Escrevo porque sempre há algo de novo, no imenso deserto de minha alma
Nas páginas soltas, dos crimes do perdão e da compaixão
Ou na vastidão de amores cegos, incompreendidos.
Creio meus versos, assim ficarão eternizados, “nas calçadas pisadas de minha alma”
Pois toda ciência será castigada, caso não prove a existência sólida das palavras
Por isso escrevo sem tempo, nem espaço
Apenas escrevo
Sem nexo causal, ou pretexto concreto
Escrevo hoje, como ontem e amanhã,
Sem momento inoportuno, nem espaço delimitado,
Apenas letras em palavras soltas, ou presas
Num universo de vocábulos claros e/ou indecifráveis
Versos retos
Tortos
Sóbrios
Ébrios
Errantes.