Vocábulos

Escrevo, porque as palavras saem, e querem sair

Não porque precisam dizer algo, apenas porque são livres

Não interessa o que os versos dizem, porque no fundo são apenas sons viscerais

Letras, perfumes e sabores, que saem quando querem, e quando não quero.

Na concepção insurgente dos sons e do silêncio

Estreito meu querer, com o querer das coisas do mundo

Como o cheiro que a flor, sem saber ou querer, exala

Como o vento, sempre querendo assoprar vida nova em nossas veias inférteis

Escrevo, porque as palavras não têm razão,

Nem são exatas

Pequenos traços sem nexo, de raros pesadelos introspectivos

Coisas que se prendem e se soltam, no universo de minhas emoções coaguladas

Sombra inacabada de arvores florescidas.

Escrevo porque não há nada que posso fazer contra isso,

Ou aquilo

Nem a favor do amor, nem contra o desejo, ou vice-versa

Porque ambos infelizes coexistem, no espaço opaco deste dia azul

Escrevo porque sempre há algo de novo, no imenso deserto de minha alma

Nas páginas soltas, dos crimes do perdão e da compaixão

Ou na vastidão de amores cegos, incompreendidos.

Creio meus versos, assim ficarão eternizados, “nas calçadas pisadas de minha alma”

Pois toda ciência será castigada, caso não prove a existência sólida das palavras

Por isso escrevo sem tempo, nem espaço

Apenas escrevo

Sem nexo causal, ou pretexto concreto

Escrevo hoje, como ontem e amanhã,

Sem momento inoportuno, nem espaço delimitado,

Apenas letras em palavras soltas, ou presas

Num universo de vocábulos claros e/ou indecifráveis

Versos retos

Tortos

Sóbrios

Ébrios

Errantes.

RogerioCalais
Enviado por RogerioCalais em 22/10/2018
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