Minha terra
Minha terra
maria da graça almeida
(É tão difícil, mestre Drummond,
deixar de cantar o encanto da Terra.
Não posso largar a saudade,
que é férrea,
impressa apenas num velho batom.)
Lá na terra onde nasci
há mais terra, há mais chão,
há mais mato, há mais grão.
Há amores mais amigos,
há amigos mais antigos.
Há um céu tão mais aberto,
há uns bichos mais espertos!
É tão longe, muito longe,
essa terra onde nasci
e ainda que distante
e mesmo eu tão inconstante,
dela nunca me esqueci.
É uma terra diferente,
de alegria atrevida,
onde o povo é mais quente,
onde as faces têm mais vida.
Lá na terra onde nasci
não há dias sonolentos,
há o riso mais desperto,
há um rio correndo atento,
há um trem que cedo apita,
há um trem que chega lento!
Há garotas que não brigam
com moleques barulhentos.
Lá na terra onde nasci
a vizinha é amiga,
a amiga, meio-irmã
e em mãos sempre entregam,
com bom cheiro, com tempero,
empanados com carinho,
os segredos das manhãs.
maria da graça almeida