Futuro sarcófago

Não me guardo esperando subir ao céu de ouro

Não rezo em voz alta, sabendo que Deus vive dentro do meu coração

Que escuta a minha alma, e o vazio da sua pulsão

Não me guardo ao presente, se eu sou ele, senciente

Não guardo o melhor do meu carinho

Se eu posso transmiti-lo com o meu corpo

Não guardo as minhas asas, além do meu destino

Se eu voo com a imaginação

Onde o mar é o ar

E o homem é um menino

Não me guardo à vida

Se eu sou vida

Não espero por um futuro sarcófago

Não sou faraó, escravo ou carmelita

Sou apenas um honesto filósofo

Sou o rio volumoso no meio de um deserto árido

Sou a veia aberta

Da mente perto do Kilimanjaro

Dos pés, descalços

Do pulsar, vermelho

O sangue que bombeia as minhas preces

E os eretos joelhos

Segurando o firmamento e escondendo o olhar

Em uma tarde tranquila,

A pensar

Sentindo o paraíso,

E o tempo seguindo

O meu respirar

Contemplo o agora

Sou o escriba das leis próprias

E universais

Hieróglifos sem reis celestiais

Bem perto

Eu falo comigo

Um simbolismo sem preço

Com os meus instintos, eu freio

Com os meus sentidos, eu creio

Tento sair um pouco dessa prisão

De sentir demais

Eu sonho, e fujo do pesadelo

Do horizonte em um caixão

E busco pela eternidade de uma paz

Pela inalcançável perfeição

Da vida, eu tenho o seu incansável beijo

De absoluta, absurda ilusão