Estranhos Amigos
Deram voz a alguns amigos, se amigos
E muitos desses com seus ódios
Guardados por uma vida inteira cuspiram
Agora somos amigos em modos separados
Deram vez a alguns amigos silenciados
Privilegiados, gritam agora suas iras
E nós desse lado do rio, do balcão
Olhamos com muito medo eles, os amigos
Soltaram as mãos dos amigos, agora
Seguram em outras mãos mais iguais
Mais obedientes, se sentem livres
E nos olhos trazem suas certezas, certas
Agora o que somos, nem sei, chamei de amigos
Aqueles que um dia também foram amigos
Acordaram dentro de um sonho antigo
E dizem palavras de ordem, e disciplina
Eu que nem sei quem são meus amigos
Meus parentes de convívio, de outras sedes
O discurso improvisado virou lei dura
Obscuros descobriram a luz, mesma insana
Deram a eles o poder de dizer o que quiserem
E a besta fera agora é a dona da verdade
São absolutos, nunca lutaram, mas
São vencedores de uma batalha anunciada
Ah, meus amigos, alguns permanecem amigos
Outros de tanta metamorfose são estranhos
Galácticos, estanques, acéfalos, desertos
Eu um nada que pensa, olho e não entendo
Milton Oliveira
16out/2018