Nas remelas do querer-bem
É fácil amar de bem com a vida,
quero ver amar com tudo atrofiado.
É fácil amar nos gostos da vitória,
quero ver amar com urubus gargalhando.
É fácil amar no colo de Deus,
quero ver amar feito bagaço solitário.
É fácil amar no caminho de volta,
quero ver amar com a alma coalhada.
É fácil amar com o coração em paz,
quero ver amar nos berros castigando o ar.
É fácil amar aninhando sonhos,
quero ver amar encarcerado no desencontro.
É fácil amar com aplausos de todo lado,
quero ver amar num redemoinho atroz.
É fácil amar na verdade dizendo tô aqui,
quero ver amar num chão fedido e frio.
É fácil amar com o medo dando as cartas,
quero ver amar com as mordidas do perdão.
É fácil amar com o desprezo arregaçando seus dentes,
quero ver amar estropiado pela dor.
É fácil amar untado na compaixão,
quero ver amar nas rebarbas da fé.
É fácil amar virando a angústia do avesso,
quero ver amar esgarçando os grãos do gozo.
É fácil amar reencarnado no pântano da paixão.
quero ver amar nas remelas do querer-bem.