O CEGO DA PRAÇA

Havia um cego na praça

Sabia de tudo e todos um pouco

De deixar a gente sem graça

Bengala girando na mão

Em sua perene escuridão

Num sussurrar meio rouco

Contava o que não vira passar

Vinha-lhe sorriso ao lembrar

Da algazarra de crianças

Carregando esperanças

No eterno sempre sonhar

Os gritos típicos da juventude

Pedindo uma nova atitude

E horizontes iguais encontrar

Sentira perfume de flores

Ao brotar de tantos amores

Devia ser bom se enamorar

Escutara brigas de casais

Dizia haver filhos sem pais

Que faziam da praça o seu lar

Entristecia-se ao falar

Da Igreja saíram em procissões

Vozes em cânticos e orações

Penitentes aos pecados perdoar

Soube de tempos de confusões

Pelotões marchando em guarda

Sem saber do vencedor a cor da farda

Ouviu lamentos de gente a chorar

Cenas de alegria e desgraça

De coragem e de medo

Que ele não viu na praça

Em seu eterno imaginar

Cheio de dedos, com muito cuidado

Indaguei-lhe o segredo

De tanto momento guardado

O cego não se fez de rogado

Simples! Posso lhe ensinar

Coloque-se em meu lugar

Sentei-me no banco a seu lado

Cochichou-me baixinho aos ouvidos

Fique em silêncio, o olho fechado

Atenção aos outros quatro sentidos

Vi-me na escuridão do deserto

Acenderam-se imagens na memória

Sonhos, desejos, perfumes no ar

Tudo estava ali tão perto

O tempo pareceu-me voltar

As partes perdidas na história

Que apesar da luz nem percebi passar

Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 13/10/2018
Reeditado em 14/10/2018
Código do texto: T6475594
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