DESAFIO

Por entre os meus dedos,

rolo bem devagar as sementes,

que vou escolhendo em lentidões de entendido,

em mil cuidados e carinhos.

Com elas plantarei raridades e colherei sonhos,

quando brotarem,

em verdes prenúncios de vida...

E desses sonhos elegerei um,

apenas um de entre tantos,

e sonhá-lo-ei em maior intensidade,

podando todos os outros.

Dar-lhe-ei corpo, refinamento, substância,

raízes fortes contra qualquer inverno agreste,

e sombra, para que se não queime.

E quando o sonho estiver completo,

desse broto surgirá

não uma flor, mas um dia.

Diferente dos outros. Especial. Talvez único.

Um dia de luz dourada,

sem ecos reverberando nas palavras,

apenas sons puros e significados cristalinos.

Um dia precioso como uma jóia, isolado,

fora do tempo e de qualquer espaço,

no alto de alguma montanha,

de um qualquer horizonte remoto,

para onde eu possa apontar como a um norte,

e ao qual chegue descansado

de todas as batalhas anteriores...

Então, nesse dia,

escreverei com tinta de ouro,

numa letra demorada e bonita

os meus melhores poemas,

tantos quantos puder, definitivos !

Quando a noite chegar,

lê-los-ei a todos mais uma vez,

acrescentarei o que tiver sobrado de mim,

e repousarei algum tempo.

Depois rumarei a sul e,

se puder, não escreverei mais.

Até lá, rabisco as horas...

Setembro 2007