Sol sem fim de setembro

Ando por uma rua muito estreita. Por vezes

Chego a tropeçar em pequenas pedras, mas

Não culpo outra pessoa além de mim mesmo

Por tanto descuido ao caminhar. Assumo a res-

ponsabilidade por meus fracassos e desdigo

Possíveis discursos inflamados contra o caos.

Algum propósito deve haver quando um amigo

Não me liga no meio da noite pra me dar conselhos.

Fecho os olhos e paro em frente a qualquer espelho

Tentando não ver quem realmente eu sou.

Do lado de fora da casa, não tem ninguém

Cantando uma música antiga, nem mesmo

O fantasma de um doce amor. Mas apenas,

Ou quem sabe menos, uma vontade irrealizável

No ar, um desejo que, sei, não me levará a nada.

Ando por uma rua que nem sempre andei

Por isso, talvez, ainda tropece em pequenas

Pedras, ou porque nunca tenha havido outro

Jeito de chamar a atenção de quem não olha para

Os lados, de quem (ou o quê) simplesmente

Esqueceu da realidade nua e crua e vulgar.

Um beijo no exato momento do flash, a mão

Segurando em lugar impróprio em público

Pouco mais de uma hora da tarde, e o amor

Acontecendo sem vergonha no meio da praça

São resquícios de uma chuva primeira

Que molhou algumas almas e deixou que

A maioria se perdesse sob o sol sem fim

De setembro. Um rio infinito não poderá

Molhar a terra para sempre, nem se.

João Barros
Enviado por João Barros em 01/10/2018
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