Sol sem fim de setembro
Ando por uma rua muito estreita. Por vezes
Chego a tropeçar em pequenas pedras, mas
Não culpo outra pessoa além de mim mesmo
Por tanto descuido ao caminhar. Assumo a res-
ponsabilidade por meus fracassos e desdigo
Possíveis discursos inflamados contra o caos.
Algum propósito deve haver quando um amigo
Não me liga no meio da noite pra me dar conselhos.
Fecho os olhos e paro em frente a qualquer espelho
Tentando não ver quem realmente eu sou.
Do lado de fora da casa, não tem ninguém
Cantando uma música antiga, nem mesmo
O fantasma de um doce amor. Mas apenas,
Ou quem sabe menos, uma vontade irrealizável
No ar, um desejo que, sei, não me levará a nada.
Ando por uma rua que nem sempre andei
Por isso, talvez, ainda tropece em pequenas
Pedras, ou porque nunca tenha havido outro
Jeito de chamar a atenção de quem não olha para
Os lados, de quem (ou o quê) simplesmente
Esqueceu da realidade nua e crua e vulgar.
Um beijo no exato momento do flash, a mão
Segurando em lugar impróprio em público
Pouco mais de uma hora da tarde, e o amor
Acontecendo sem vergonha no meio da praça
São resquícios de uma chuva primeira
Que molhou algumas almas e deixou que
A maioria se perdesse sob o sol sem fim
De setembro. Um rio infinito não poderá
Molhar a terra para sempre, nem se.