Ao amor daquelas duas mulheres
Eram dois úteros que se atracavam fervorosamente,
degustando paixões em goles desembestados,
que nunca se cansavam de brilhar,
nunca mesmo.
Duas fêmeas que decidiram romper barragens,
revirando do avesso cenários que se diziam certos,
fazendo valer o que sentiam com todas suas rebarbas,
com todos seus frutos, com toda sua imensidão.
Mas os homens, sempre tão armados de leis cegas,
berravam que aquele não era o caminho de Deus,
que ambas tinham que sumir dali para sempre,
pois viviam uma farsa tosca e cruel.
Mas elas não arredavam pé do curso desse rio,
não fugiriam de dar a voz mais plena
ao que o coração nunca parava de berrar.
Duas mulheres maduras pelos suores da vida,
encharcadas de certezas que nada tinha de errado
naquele amor intenso, afinado, de raízes fortes.
que tinham feito nascer uma para a outra
e nada mais.
Sabiam que, mais dia, menos dia,
o seu jardim também receberia a luz,
que lhes caberia o respeito pelas escolhas feitas,
que sua caminhada merecia aplausos,
merecia bênção, merecia todo sim.