O corvo renascido
Lembra do corvo engaiolado?
Que se prendia no passado?
Que tinha medo de dar errado,
Sem nem mesmo ter tentado?
Hoje plana pelo universo,
Se achando a cada verso,
Tornando-se um bicho complexo,
De sentimentos conexos,
Guia-se pelas estrelas da esperança,
Farfalha, bate asas e não se cansa,
Sapateando pelo palco como uma dança,
Carregando teimosia e perseverança,
A incerteza do destino lhe encanta,
Por isso pelo silencio ele canta,
Ser amado lhe espanta,
Mas sua paixão é tanta,
Ele encontra-se com a mão de alguém amável,
Que o aceita mesmo sendo uma ave deplorável,
De animal desgraçado ao pássaro amigável,
Um verdadeiro espírito indomável,
Os dedos que lhe sustentam são melhores que seu confinamento,
Mais aquecedores que qualquer chama de juramento,
É um calor que lhe transforma num mero ciumento,
Que não consegue se desprender desse belo encantamento,
O ferro da gaiola sempre foi congelante,
Sentia-se um livro empoeirado na estante,
Queria desistir de instante a instante,
Mas nunca esqueceu que no desespero, cante,
Uma vida imortal é um suicídio deprimente,
Uma vida sozinha é se matar lentamente,
Ele percebeu que tem muito pela frente,
Não importa se pareça o fim, tente, tente, tente!
É um sentimento belo que lhe causa um ardor,
Parece que o sol de sua alma nunca vai se pôr,
Passa-lhe os males, ódio, raiva, angustia e rancor,
Claro que o corvo cerúleo pode também se reencontrar com o amor,
Ele pousou numa mão carinhosa,
Que faz ele lutar contra uma vida sempre em prosa,
Um sorriso de uma alma esperançosa,
Que com seus olhos pensa ‘nossa, nossa, nossa’