Canto livre sem nome
Existe um Renoir brincando com a areia
Que escorre de nosso presente
Para desenhar nossas lembranças,
Ha qualquer coisa de morno
Nos turbilhões vividos no passado
Quando olhados pela lente do presente,
Inventando histórias sobre nós,
A nostalgia abraça mais pecados
Do que qualquer pretensão religiosa
Enquanto a saudade reconcilia
Humanos despatriados da vida
Nos cenários fugazes da mente
De um ente esquecido pelo tempo,
O coração humano foi forjado no cinismo
Para ser capaz de perdoar qualquer absurdo,
Nenhum orgulho sobrevive
Ao sorriso do crepúsculo
Na mesma medida que todo desprezo
Cede lugar a um adeus definitivo,
É preciso ter os olhos contaminados
Pela candura do horizonte final
Para tratarmos nosso presente
Com uma atmosfera de nunca mais
Que nos mostra cada ato simplório da vida
Com uma beleza extraordinária,
Onde cada insignificância
Torna-se uma transgressão,
Todas as figuras de palavra, carne e sangue,
Todo corpo de rostos, gostos e cheiros,
Todo delírio sonoro que invade meus sentidos
Incendeia minha fome e sede insaciável de mundo,
Quero exaurir-me de tudo que posso ser
E com essa virtude vou pelas ruas do acaso
Para esgotar todas as possibilidades de você.