RELÓGIO DA MEMÓRIA

Cada pedra dizia uma coisa, como um sonho que dormia em mim.

E era uma palavra que se perdia, era um silêncio que me sorria.

Sem palavras não sou nada, penso. Não sou nada por que não sei

Estar fora dos acontecimentos, desses que acontecem sem mim.

Quando olho para os lados e vejo apenas rostos desconhecidos,

Que me olham sem ver, ou que me veem e não me reconhecem,

Pelo simples fato de não me conhecerem de fato.

Estou fora dessa mágica, onde as pedras falam com os homens,

E estes ainda estão acordados e ouvem sem espanto,

O barulho dos cactos no deserto do tempo.

Esse tempo que passeia no relógio da memória,

Dividido em instantes: antes, agora, depois... Sempre... Nunca.

Todos dentro de um improvável acontecimento, que teima em acontecer.

Sou parte desse silêncio, perturbador como um xingamento,

Que, sem resposta, fere lá no fundo, a alma.

Faço parte das pedras e acordo sem entender o jogo dos sorrisos.

Dentro das palavras há outras palavras; e estas dizem

Mais do que aquelas são capazes. Todos os silêncios me sorriem,

Um sorriso amarelo, de momentos que se perderam.

Eis o ideal da poesia:

João Barros
Enviado por João Barros em 19/09/2018
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