Baile dos Amantes
Notório é a tensão,
Enquanto o sapato aperta-me o tendão,
Aliso o fio vermelho do cordão,
Enquanto começa mais uma canção,
Vejo-a e me espanto,
Vestido vermelho como os lábios, a rosa do doce canto,
Depois de muito, o esforço foi tanto,
Seduzindo-me pelo seu encanto,
Dando as mãos, cria-se um traço,
Um olhar a cada passo,
Como andar na terra virgem descalço,
A dança dos pássaros envolvidos num laço,
O ligamento prometido,
Sem nenhum destino intrometido,
Sem nenhum coração partido,
Sem sentimento corrompido,
Torna-me um com ela,
Dando passos de sentimento tagarela,
O sorriso da alma d’ela,
O corvo sempre será dela,
A forte desgraça do coração,
Transforma a alegria numa sensação,
Tomando os olhares de escuridão,
Em um tempo que não aceita o perdão,
Faça-me feliz pela eternidade,
Quero ser infinitamente seu estandarte,
A lança da jovem beldade,
O jovem da liberdade,
O tempo não se passa para quem está amando,
Mas a colecionadora está nos procurando,
A chama está se apagando,
Sei que quando a dança acabar ela estará me deixando,
Não quero ser nunca mais parado,
Erro meus passos para que seja recomeçado,
Não quero aceitar a tal destino que estou fadado,
Deixo esse momento eternizado,
Eu não quero dançar sozinho,
Não quero me submeter ao vinho,
Quero para sempre esse carinho,
Dançar para sempre devagarinho,
Me de motivos para lhe soltar,
Fazer as reverencias e com a dança acabar,
Não me disse que para sempre iria me amar?,
Nem mesmo por Deus eu iria te deixar,
A dança se esvai,
Ela me beija e vai,
Minha ficha não cai,
Que ela tem de atender o chamado de seu Pai,
Deixado na porta pela sua amada,
Forçando os dedos para guardar a caixa segurada,
Foi uma despedida delicada,
Fez-me uma choradeira desgraçada,
Reprimi coisas que nunca voltarão,
Comecei a dançar na escuridão,
Olhando sempre para o chão,
Esperando a parceira do meu coração,
Não quero me aceitar,
Sozinho eu não quero estar,
Aquela dança servirá para lembrar,
Que no baile dos amantes, o importante é amar,
Mesmo com meu pombo a me deixar,
Seguirei a cantar,
Aprendi que ser maldito não é ser errado,
Pois sou o monstro mais amado,
Desse romance inacabado,
Eu sou o corvo desgraçado,
Ela o pombo libertado,
Que para sempre será lembrado.