Auto Descoberta
I
Menina chega à sala
Pés descalços, madeira no chão
Sem voz, sem som e sem fala
Aproveita da sua solidão.
Porém, para seu espanto
Há outra de si á sua frente
Refletida como por encanto
Exibida por um espelho impertinente.
A menina franze a testa
Sendo tímida, modesta
Não desejava por si ser assistida.
O espelho repete sua ação
Mas sem timidez em sua expressão
Que por ela, passa despercebida.
II
Inquieta, a menina olha para os lados
Só há paredes, o espelho, teto e piso
Suspira, lambe os lábios ressecados
E faz alguns passos num pequeno improviso.
O reflexo dança de volta para ela, exibido
Se movendo lentamente no silencio pesado
Seus movimentos são duros, contidos
E escondido no seu olhar, desagrado
A menina para e bufa, irritada
Se sentindo ofendida, provocada
Por aquele reflexo atrevido
Pelo espelho, ambos os olhares caem
Em um radio de onde sons não saem
No espelho, um entusiasmo contido.
III
Chateada com sua própria estupidez
A menina vai até o radio e o liga
E com uma surpreendente rapidez
A musica preenche o aposento com vida.
O reflexo encara a menina com desconhecida paixão
E a menina o encara de volta, hipnotizada
O som embriagante preenche sua mente e coração
E ambas mexem seus corpos na batida sincronizada.
A menina vê chocada o reflexo
Boca aberta, olhar perplexo
Dessa vez como ele realmente era.
O reflexo sorri para ela de volta
Conduzindo-a pela musica, agora solta
Depois de tanto tempo de espera.
IV
Sempre presa no espelho, aquela imagem
Era nada menos que o reflexo de sua alma
Presa no seu corpo, impedida sua passagem
Pelas inseguranças que lhe tiravam a calma.
Agora que se descobrira, conhecera
A menina já não tinha mais receios
Aceitou sua paixão e a si mesma recebera
Unindo-se na dança de todos os meios.
Naquele momento, cega para o mundo
Dentro do seu coração no canto mais profundo
Ela dançou com seu corpo e alma gloriosamente.
Como uma flor que o sol tocou
Pela dança ela desabrochou
De menina em mulher finalmente.