Náufrago

NÁUFRAGO

Quando me sinto raivosa

Vou ao alto da montanha

E grito, ao vento, o meu lamento.

Solto ao léu a minha revolta;

Clamo ao céu por libertação.

Que me importa

Se fecharam a porta

E o meu pranto não suporta.

Tiro de dentro do peito

A dor do amor desfeito

E a entrego ao Criador.

Passa. Tudo passa nesta vida.

Esta raiva também passará.

O vento leva no seu bojo

O amor, a flor, a pena,

O gozo e o nojo.

Hoje sinto-me pequena,

Amanhã o que haverá?

Vento, brisa amiga,

Sopra a vela do meu barco.

Empurra-me, mar adentro.

Deslizo sobre o oceano

E vejo a praia se distanciar.

Na solidão da água imensa,

Eu penso no náufrago,

Que encontrei a suspirar.

Curei-lhe a ferida,

Dei-lhe sopro de vida

E fiquei a admirar.

Era belo, jovem,

E, no entanto,

Perdido seu olhar.

Quantas guerras pelejara?

Quantas mulheres amara?

E agora, soltara as amarras

E se perdera no mar.

Nada pude fazer

E vi-o, sereno, morrer

Sem, nem um nome, murmurar.

Que a morte lhe seja leve

Por esta vida tão breve

Que acabou por expirar.

Gilda Porto
Enviado por Gilda Porto em 09/09/2007
Código do texto: T644971
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