MONÇÃO
Sempre perguntam quem sou,
digo e ninguém acredita.
A resposta é sempre a mesma,
mas fica a dúvida maldita.
Sou o que mente e que jura,
o que esculpe a pedra dura,
a asa que bate ganhando altura,
sou liberdade e clausura,
companhia e solidão.
Sou o que fica e o que sai,
o que chega e sempre vai,
sou egoísmo e candura,
sou miséria, sou fartura,
fome e sede, vinho e pão.
Sou o que sobe e o que desce,
o que manda e o que obedece,
o que pede e o que oferece,
o que xinga e faz a prece,
apedreja e esconde a mão.
Sou o que fala e o que cala,
o que diz sim e diz não,
o que magoa e o que sente,
silêncio esperando o grito,
sou pecado e sou perdão.
Sou tudo que foi descrito,
julgamento e veredicto,
sou compassado e aflito,
sou tudo e nada, infinito,
um dia seca , outro monção.
Saulo Campos - Itabira MG