DERRETIDO NO HORIZONTE
As pessoas o observavam com espanto.
Como tornara-se um concreto de solidão?
Largado à mercê do destino?
Todas as formas e deformações do preconceito
desaguavam como esgoto em seu peito enfraquecido.
Cansara-se das paixões, dos vícios e de todo veneno
servido em marmitex diário.
De tanto mastigar ódio seus dentes viraram pedras.
Seu sangue azedara, sua pele tornou-se um couro grosso,
seus olhos ficaram mais negros e o brilho derreteu-se no horizonte.
Agora, como um monstro assustado, esconde-se nos escombros em
meio à multidão ensandecida.