Cinza

Busquei em teus olhos,

pôr-do-sol cinzento,

busquei em teus olhos

cores pra esse adeus.

A chuva não cessa de chover.

A brisa não cessa de soprar.

O sol deve estar se pondo.

Daqui de onde estou,

somente as nuvens se põem.

Somente o cinza das nuvens se põe...

o cinza que sempre se impõe.

Busquei nessas brisas,

essas brisas de pôr-do-sol cinzento...

busquei nelas vozes...

voz...

aquela voz.

Busquei aquela voz nesse adeus.

Busquei no pôr-do-sol cinzento

a semente do adeus...

do adeus que, muito em breve,

muito em breve...

deve estar chegando.

Já ouço seu assovio.

Um assovio se afastando...

um assovio se afastando...

pra se demorar tanto.

É estranho... mais uma vez é estranho...

sempre é estranho quando se encontra alguém

que já chega na hora de dizer adeus.

Sempre é estranho quando se encontra alguém assim.

Busquei nos ventos do fim de tarde,

nas folhas do fim de tarde,

a calma desse adeus...

adeus.