P R E C I O S I D A D E S (130)

MALA DE COURO

Esta mala no armário, em couro e tréguas.

Esta mala na morte desarmada

como um revólver, o tambor sem nada

de balas ou viagens, roupas, léguas.

E sem disparo, a mala se desprega

com a mola do arcabouço, é desmontada

do nada para o nada, onde carrega

a sombra mergulhada sobre o nada.

E o mistério que foi, certa fereza

de quem, aos poucos, vai desconjuntando

ossos e ócios. Toda a pontaria

Se desfaz ao gemer e o instante é o dia

que no ventre de couro se condensa

e se dilata, em ceu, sem saber quando.