Coração
POEMA: Coração
Barquinho viajante, à vela navegar
que carrega tanta gente sozinho no mar.
Ao horizonte infinito corre a maré;
que coitado! Sofrido! Esse barquinho é...
Madeira toda ruída, cupins do tempo
que dilaceram e sangram sem perdoar,
que me lembra e que me dói a todo momento,
e o barquinho veleja sozinho no mar.
Ao mastro a bandeira vermelha, aquela estrela
no alto, que nutre as nuvens, busca trazê-la,
mas o vento sopra forte, e sopra ao norte;
as ondas ao barquinho já trazem a morte.
De mastro caído e de bandeira rasgada,
que nada... e nada! Só queria é andar...
O barquinho vermelho - o navio pirata -
ele sonha com estrelas à beira-do-mar...
Mas a solidão pesa o peito, chora o barco.
A esperança do alto ou da beira o faz fraco
e não nada na onda, nem vira pro vento,
só sonha com terra ou com ele morrendo.
Barquinho viajante, as suas velas pararam
e todos os seus sonhos no mar afundaram.
Um pedaço de aço à praia parou
de baixo da estrela qual tanto sonhou.