Que Deus lhe Pague!
O sujeito se gaba de ser arquiteto,
De possuir uma educação britânica!
Mas o carro é 1.0, com furo no teto,
Logo traz para esta maldita mecânica.
O automóvel estava uma desgraça,
Sorte que também sou bom funileiro.
E ainda soltava muito mais fumaça
Do que pai de santo em terreiro.
Eu simplesmente o conserto.
E na hora de me pagar, enrola;
Profere que nada deu certo,
Chora e diz: — O que faço agora?!
"Nem mesmo tenho cartão de crédito"...
Implora pelo famoso pagamento fiado.
Contou drama comovente e bem inédito.
Compadecido, deixo o valor pendurado.
Na mesma hora extravasa de alegria.
Entoa benção: — Que Deus lhe pague!
Só duas semanas depois, eu descobriria
Que o puto era um grande estelionatário.
Seria melhor ter mandado a real,
Mesmo na sonoridade destoante,
Visto que de setembro até o natal,
O calote viria de fato galopante.
Mas agora já era. A tal pessoa,
Não me pagará tão cedo.
Muito desagradável me soa,
Conheço bem esse enredo.
Não obterei o menor percentual;
Afirmo com indubitável juízo:
Só sei que me dei muito mal,
Por fim saí num total prejuízo.