O PAREDÃO E O MAR
– Ó, pedras quase afogadas no oceano,
lavadas pela salgada água do mar,
sois blocos e não poético engano,
sonho deste velho vate a te fitar!
– Ó, meu paredão, nada te furará,
muito menos este mar de água salsa,
o qual sobre tuas faces se espalhará
na leda espera de tua expulsão falsa!
E a cada golpe da revolta vaga,
cada pedra se verá muda e inerte;
e, mesmo que se possa jogar praga,
nelas, de Netuno, só água se verte.
No passar dos anos de sua labuta,
o mar molda–se fraco e fica ordeiro,
que por não transpor o paredão em luta,
molha–no e ainda salga–no por inteiro.
Salvador, 30/01/1999.