CLAVE DE SUL * Os tempos velhos
I
Uma mancha de arvoredo…
Treme o caminho de medo!
.
Um grito de raiva corta
o silêncio do montado.
Quem supunha a noite morta
neste sossego assombrado?
II
Numa janela da aldeia
tremeluz uma candeia…
.
Que sombra furtiva passa,
tragada pela escuridão?
Há um silêncio de ameaça
que perturba a solidão.
III
Andam malteses a monte
nas terras sem horizonte!
.
Soam secos estalidos…
navalhas de ponta e mola!
Há abafados ruídos
de passos que a lama atola…
IV
Cicatrizes purpurinas
de balas de carabinas!
.
Homens de pele trigueira,
curtida pelo relento!
Aventuras de fronteira
e entregas sem juramento…
.
Nos beijos livres da noite,
sangram flores do laranjal!
Que amor na sombra se acoite,
na pureza natural…
V
O medo, o medo guardando
no arrojo do contrabando!
.
Malteses de olhos sombrios
assumindo a perdição
de ousios e desvarios
que lhes levedam o pão!
.
Uma sombra no arvoredo…
Treme o caminho de medo!
José-Augusto de Carvalho
Alentejo, 5 de Setembro de 1996
Alentejo, revisto em 7 de Maio de 2016