RAPTO
(Em homenagem à Olaudah Equiano)
Olaudah, ainda menino
Com sua irmã e outros petizes
Enquanto brincavam n’aldeia
Um rapto mudou-lhes o destino
E para Bridgetown, Barbados
Em quanta angústia
De Igboland, o Atlântico viu-os partir
Entre 244 cruelmente acorrentados
No apertadíssimo porão
De Ogden, a negreira embarcação
Dias depois, para a Virgínia
Nas margens do rio York
Partiu o miúdo Equiano
Com a alma podre e fria
À bordo de Nancy
Com os pés descalços
E a pesada bagagem
No imaginário sem norte
Equiano calcou no solo americano
O medo da morte
Nada mais temia
E nada mais sentia
Nem dor nem alegria
Alberto Secama 27 de Setembro de 2015