SIRI MOLE
Cansei andar socando
no balanço do buzum
inalando a cachaça
exalada por bebum.
Cansei-me de ser taxado
e pagar os meus pecados
viajando atarracado
escutando zum zum zum.
Cansei de cheirar churrasco
no porão e na laginha
comendo pão com farinha
e de sofrer judiação.
Cansei de olhar do morro
a mansão iluminada
e a avenida enfeitada
esperando o estrangeiro
e só poder sentar de graça
dentro de um camburão.
Pra lhes dizer a verdade
com toda sinceridade
cansei de estar na praia
todo dia a trabalho
quase sempre me atrapalho
com esse trampo fuleiro
pensando bem de repente
cansei de ser boa gente
e deitar sobre o espinho
estou sempre no batente,
só me resta a chapa quente,
as vistas e o corpo ardente
e nem sei o que é dinheiro.
Pra lhes dizer a verdade,
com toda sinceridade
cansei de toda essa zona,
e chorar no fundo do poço,
decidi eu vou à forra,
chega de viver na lona
me envergonha esse vespeiro,
meu verso é feito bala
já muni meu bacamarte
tenho um arsenal de arte,
mas meu canto é coisa à parte,
aguente a ponta seu moço,
segura que é chumbo grosso,
sou tinhoso por inteiro,
insisto, nunca desisto,
luto e ainda persisto,
sou cidadão brasileiro.
Saulo Campos - Itabira MG