SIRI MOLE

Cansei andar socando

no balanço do buzum

inalando a cachaça

exalada por bebum.

Cansei-me de ser taxado

e pagar os meus pecados

viajando atarracado

escutando zum zum zum.

Cansei de cheirar churrasco

no porão e na laginha

comendo pão com farinha

e de sofrer judiação.

Cansei de olhar do morro

a mansão iluminada

e a avenida enfeitada

esperando o estrangeiro

e só poder sentar de graça

dentro de um camburão.

Pra lhes dizer a verdade

com toda sinceridade

cansei de estar na praia

todo dia a trabalho

quase sempre me atrapalho

com esse trampo fuleiro

pensando bem de repente

cansei de ser boa gente

e deitar sobre o espinho

estou sempre no batente,

só me resta a chapa quente,

as vistas e o corpo ardente

e nem sei o que é dinheiro.

Pra lhes dizer a verdade,

com toda sinceridade

cansei de toda essa zona,

e chorar no fundo do poço,

decidi eu vou à forra,

chega de viver na lona

me envergonha esse vespeiro,

meu verso é feito bala

já muni meu bacamarte

tenho um arsenal de arte,

mas meu canto é coisa à parte,

aguente a ponta seu moço,

segura que é chumbo grosso,

sou tinhoso por inteiro,

insisto, nunca desisto,

luto e ainda persisto,

sou cidadão brasileiro.

Saulo Campos - Itabira MG

Saulo Campos
Enviado por Saulo Campos em 29/08/2018
Código do texto: T6433309
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