Falando do Amor

Quero dizer do amor.

Do amor que não deveria ser descritivo,

no entanto, sem descrevê-lo

não teria como documentá-lo;

porque não existe imagem

por mais nítida e mais real que seja

que possa retratá-lo.

Vou dizer do amor que aniquila

pela violência da força.

Força que sobrepõe qualquer loucura.

Repito - loucura; essa loucura que é amar.

Quem ama, carrega dentro de si o poder

de rir de pequenas coisas, de se emocionar

por nada, de chorar oceanos, de desmontar

distâncias e de tomar para si, todas as luas.

Vou dizer do amor que domina

pela certeza da posse.

Esse amor possessivo faz cobranças. Ocupa

o espaço do ser amado, tira-lhe a liberdade, sufoca-o

com ciúmes. Esse amor é doentio. Esse amor termina

em morte – o ser amado se anula, perde sonhos,

não vive mais, se arrasta.

Vou dizer do amor que não cuida

pela certeza de também ser amado.

É um amor sem conquistas. Seguro. Não vê

e nem se esforça, para colorir a paisagem...

Ambos um dia se vêem como tristes estátuas

que os anos vão corroendo. Embrutecem,

petrificam. Não reuniram bagagem.

Vou dizer do amor que liberta

pela certeza dele por ele.

Esse amor que motiva, acende, ilumina,

doa, dialoga e escuta, divide, acrescenta,

multiplica, expande. Esse amor que

não complica.Que respeita. Esse amor que é mais

que energia. É muito mais que filosofia.

Esse amor que é quase miragem

de tão perfeito, tão digno.

Que pena! Esse amor não me foi doado

nem por escrito, nem em retrato.

Existiria de fato?