A MISSA DA SELVA

Pobre espírito da selva cinzenta,

guardado por anjos com asas de papagaio,

fala sem rumo entre cipós de cabos elétricos,

onde santos são o tédio do candomblé on-line.

Uma turba de proporções de tribos deslumbradas,

é muita gente sem agrado de espelhos escuros,

onde dentes faltosos vão como pragas pelo mundo.

Seremos enterrados nessas várzeas de outros donos,

onde se cultiva a tristeza e a virtude com bunda de fora.

Uma lástima tamanha que não cabe no lombo do jegue,

indiferente como sempre à marcha inútil do povo inculto.

De que servem pianos variando sobre hinos em farrapos?

Veludos quente sobre ossos carente de comida e luz?

Isso é a música mais cínica composta por flauta tribal,

o deboche mais sujo da gente mais suja e encardida,

acreditando ser ouro a joia roubada em algum carnaval,

quando se reluz o plástico pobre e o suor de feiura e sal.

Macacos são a corte em uniformes amarelos e gastos,

pisando o pescoço do cangaço fora do tempo.

Por isso o bocejo das damas de pele lustrosa,

longe dessa selva chamada inferno ou bacanal.

Tudo mais brilha no longínquo degredo do norte,

onde as cores da guerra e do céu de bombas nucleares

são a danação do estrangeiro de gente cafona e sem jeito.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 26/08/2018
Reeditado em 26/08/2018
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