FUGA
Essa puta desalmada
lambuzada em purpurina
nos patamares, nas esquinas,
recrutando seus fiéis,
que em procissão
vão chegando na espreita,
sem reza, sem vela benta,
e sem levantar suspeita.
Vai fumaça na retina,
o pó adentra a narina
e a viagem principia,
ninguém conhece a estrada,
não tem volta, nem saída,
tudo é em vão nessa jornada,
bem na contramão da vida.
Sem nenhuma encruzilhada
sem fuga pela tangente,
a clientela afoita
sempre em sua companhia
curte uma falsa euforia
em êxtase delirante
e a tal dama deslumbrante
faz a ilusão vir à tona.
A cafetina suntuosa
bailarina do recinto
tão esguia meretriz
vai tecendo um labirinto
vislumbrando ser a dona
da mente desses zumbis,
e no balé dos aflitos
os sonhos são infinitos,
porém sem final feliz.
Saulo Campos - Itabira MG