NINHARIA
Acho que estou andando
na contramão da história
se não me falha a memória
tudo agora anda mudado.
Onde foi parar então
o velho aperto de mão,
a benção que era dada
na saída e na chegada.
Pai e mãe dentro de casa
eram sempre respeitados
em qualquer situação,
hoje são só uns coitados
sempre largados de lado
sem respeito e atenção.
Amigos eram bem-vindos
com abraços fraternais
tratados como irmãos
sem distinção sempre iguais.
A palavra nesse tempo
ainda tinha valor
não gastava assinatura,
testemunha ou fiador,
uma barganha valia,
coisa vinha, coisa ia
e era assim desse jeito,
chegava o final do dia
todo mundo satisfeito,
a panela sempre cheia
comida cheirando longe
a mesa pronta pra ceia.
Atenção e gentileza
tinha em todo lugar,
muito obrigado, bom dia,
com licença sô João,
como vai dona Maria,
e o sô Zé, como está?
Tudo com muito respeito,
sem chacota ou desdém.
Todo mundo se ajudava
ainda havia o querer bem
ainda havia saudade,
lembrança era sempre boa,
se o outro era visita
tratavam bem a pessoa.
A fé era residente
no corpo e também na mente,
se o joelho ia pro chão
até milagre surgia,
a esperança era jovem,
diferente de hoje em dia.
De repente a ganância
o poder e a regalia,
tomaram conta de tudo,
e a multidão arredia,
agora anda descrente
pois no momento presente
pessoa não tem valia.
O dinheiro compra tudo
ser humano é ninharia.
Saulo Campos - Itabira MG