Reforma agrária
Lá na minha roça
Veja só o que é que há
Se o cara é nervoso
Tem pé de maracujá
Tem cantina em cada toca
Para atender a muriçoca
Assim evito o zunido
A zoar no meu ouvido
Tudo lá é frondoso
E dá fruta em pencas
E nossa fidelidade
É medida com avenca
Ninguém prende passarinho
Nem um pio na gaiola
Só se ouve um chorinho
Na vitrola, ou na viola
Tem um cão muito esperto
Que não corre atrás de carro
Deixa o rancho todo aberto
E se esconde atrás do jarro
Que diferente é o chiqueiro
Onde o porco toma sol
com água limpa e chuveiro
Não se vê colesterol
Coelho, não é chaveiro
E nem serve de crachá
Para sorte no terreiro
Ele usa um patuá
Lá não tem enxada
Mão é lisa e sem dor
Para terra ficar arada
A gente tem um trator
Da vaca ninguém desdenha
O respeito é um só
Lá não se faz ordenha
Só se bebe leite em pó
O que vale é a voz do povo
E quem canta é o galo
Galinha dona do ovo
Só faz abrir o gargalo
Lá na minha roça
Nada sai do lugar
Até tem uma carroça
Não tem burro pra puxar
Ali só quem trabalha
É a danada dona cegonha
Traz crianças em suas tralhas
Enche a roça de vergonha