59 anos

Venho de tantos agostos

Venho de tantos desgostos

De tanto sonhos indeléveis

O tempo passou, imponderável

São inescrutáveis os caminhos pelos quais caminho

Procuro-me nos dias e nas noites de angústia e solidão

E, então, não sei quem sou

Perco-me diante desta vontade de partir

Sem ter lugar para ir

Sem ter um lar para aonde eu pudesse voltar

Este desejo impossível de ser além do que sou

Este sentir-me miserável na voz imperceptível de um anjo caído

Não sei quem sou

Tenho um tédio enorme da vida

O tempo passou, inelutavelmente

Sibilando saudades

melancolias

derrubando as folhas das árvores tardias

levando-me, rio caudaloso,

em busca de um mar portentoso

São inescrutáveis as palavras indizíveis

e misteriosas do destino

Trago em mim este esgar de melancolia

Este costume de amar de repente

Esta inquietude temente

diante dos véus da alma

Este desassossego dentro das noites rumo à aurora

que se arremessa dizendo tanta melancolia

este chorar tardiamente diante da angústia

e da agonia que estremecem em meu peito

esta saudade inefável do que foi ontem um menino

O tempo passou, senciente

O tempo passou inocente

Deixando lágrima e risos

Deixando caminhos concisos

Deixou, ao passar devagarinho,

O meu olhar triste e sozinho

Deixou esta vontade incontida

de chorar por tanta vida

que passou sem eu notar