A ti, amor

faz frio

chove

a noite dorme

enquanto a madrugada espera o teu riso

o murmúrio da chuva lá fora declama silêncios

o amor fugiu com as estrelas

penso em ti

ainda te amo

ainda amo teus olhos negros como esta noite

negros como a espera do impossível tempo de te amar

e te ter em meus braços

nas noites que dormem pensando em ti

nas noites que doem pensando em ti

nas lembranças mastigando sonhos

e te ter em minha boca

e me escorrer lentamente

no eterno jardim dos teus mamilos

enquanto a madrugada roça o dia

e a corda da noite ainda diz para mim eternidades

tu és a mulher impressentida

a espera semeando esperanças

diz segredos para os meus medos

diz tanta poesia antiga

nos versos dos teus cabelos

e, então,

cantam os pássaros entre o sol e a neblina

escorregam os sonhos nos teus olhos de menina

bebo de ti a língua

entumecem as muralhas doces dos bicos dos teus seios

ah!, amada

para ti fiz o poente

antigo como a consumação da tua ausência

como a miragem de uma lua cheia no deserto

para ti fiz os astros silentes

fiz a luxúria do sol

fiz uma lua nitente

fiz flores das minhas dores

no teu amor fiz-me presente