sinceridade
por mim, e daí o que é a vida!
por mim, e daí o que são as drogas e o viver desregrado,
e o ser torto, louco,
perdido!
por mim, tanto faz.
por mim, tanto faz esse monte de ideias que se criam acerca de prolongar a vida,
de vivê-la em uma forma mais saudável
e mais adequada.
eu sou um romântico pós-moderno sem intenção de longevidade,
e, se romântico, só porque amo o efeito do absinto, as perdições noturnas e a umidade
nos pulmões,
por causa da chance de obter com ela
uma doença fatal.
eu sou da segunda fase dos românticos apenas,
só que sem idealismos,
sem mulheres-demônio,
só com vida,
vida em demasia,
em exacerbo,
vida explodindo e gritando,
baudelaire
e lord byron,
e tudo o que há de doidivanas.
ah não, não queria esse emprego de todo dia,
de hora certa.
isso é podre, imbecil e tolo.
todos somos isso: podres, por estarmos em putrefação
de tanta conta e monotonia;
imbecis,
por sermos infelizes na maior parte das horas,
fingindo que a felicidade é essa coisa de dia certo para tudo,
de comida para o filho,
de arroz e feijão para o marido;
tolos, porque regramos tudo,
porque achamos que viver muito
é melhor que fazê-lo
com intensidade.
ah, este mundo não tem nada comigo.
eu nasci mas sou outro.
outro que não serei
por um único motivo: amor,
- amor que não sei explicar,
porque prisão,
porque querer fazer feliz a alguns, uns poucos,
mas tamanhos em mim, mas grandes pra mim,
mas que vivem o tempo todo em mim.
no mais, eu poderia hoje voltar ao hospício,
de onde,
não lembro mais por quê,
saí;
não tenho ciência nenhuma de por que
saí.