LEVITAR

todo olhar tem um bater de asas

toda voz é música de encantamento

toda boca sopra ventos alísios e

todo sonho é aurora austral

nunca me perguntei o que acontece

antes ou depois do ato

dessa peça que enceno, mesmo sem querer

todos os dias e em todos os lugares.

a linfa que corre em mim flui incertezas

e o drama de reconhecer vidas

nessa camada indefinida

entre a pulsação de poesia e as batidas do coração

o que sou? de que somos feitos?

todo sorriso me parece uma serra de cortar neblinas

todo choro lava a alma e

memórias e expectativas são perfumes

entrelaçados nas narinas do meu presente

vivo alívios poéticos na dureza rude das pedras